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Exposições virtuais no MI: Bilhetes de Viagem
Por Henrique Trindade Abreu
Bilhetes de Viagem é a mais nova exposição virtual do Museu da Imigração. A mostra, assim como as outras desse tipo, produzidas pela equipe do Museu, está disponível para acesso na plataforma Google Arts & Culture. Criar uma exposição virtual tem as suas peculiaridades e tentaremos apresentar, nesse breve texto, alguns aspectos relacionados à curadoria e à produção de exibições dessa natureza no MI.
Em geral, os temas são decididos com, pelo menos, um ano de antecedência. Desde meados de 2022, por exemplo, sabemos que, no último quadrimestre de 2023, teremos que lançar uma nova exposição virtual sobre refúgio e Segunda Guerra no Brasil. Isso faz parte do planejamento estratégico e do plano de trabalho que o Instituto de Preservação e Difusão da História do Café e da Imigração (INCI), organização social que realiza a gestão do Museu da Imigração, desenvolve e sugere para a Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
A equipe técnica do MI, especialmente o Núcleo de Pesquisa, desempenha um papel fundamental na proposição e na discussão de tópicos que possam ser estudados e transformados em mostra virtual. Entretanto, ao sugerir temas, é de extrema importância considerar a capacidade limitada do Acervo Digital da instituição. Dessa forma, é crucial avaliar a disponibilidade de imagens em alta resolução, a digitalização de documentação e outros recursos e fontes digitais.
Por exemplo, o desenvolvimento de uma exposição virtual sobre navios que trouxeram migrantes para o Brasil no século XIX seria extremamente desafiador, já que o Acervo Digital do MI não possui fotografias desses meios de transportes e há uma quantidade limitada de listas de bordo preservadas. Por essa razão, a seleção de temas para as exposições virtuais deve ser cuidadosamente planejada e avaliada pela equipe técnica, considerando a disponibilidade de recursos e materiais para garantir o sucesso da mostra.
Partindo desse princípio, bem como da pertinência do conteúdo e das discussões que a exposição pode gerar, é que as escolhas dos temas são realizadas e, consequentemente, se inicia o processo de pesquisa e curadoria. É, nesse contexto, que se insere a Bilhetes de Viagem.
Dentro do vasto Acervo Digital do Museu da Imigração, é possível encontrar diversos documentos históricos que melhor contextualizam a chegada e a permanência de migrantes ao Brasil. Entre eles, destacam-se os requerimentos encaminhados à Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas, que revelam pequenos dossiês sobre alguns desses indivíduos.
A partir do início do século XX, o governo paulista permitiu que as famílias de migrantes solicitassem a devolução do dinheiro gasto com as passagens da viagem. No entanto, para que esse direito fosse concedido, era necessário cumprir alguns requisitos e passar por determinadas avaliações.
Os registros para a solicitação eram reunidos tanto pelas próprias famílias quanto pelos fazendeiros contratantes, responsáveis em certo sentido por trazerem esses migrantes para o país. Parte desses pedidos passou pela Hospedaria de Imigrantes do Brás, que se tornou, por esse motivo, uma importante fonte de informação para o acervo arquivístico-histórico da instituição.
Entre esses documentos, é possível encontrar os bilhetes de viagem, que integram vários dos requerimentos e nos ajudam a entender melhor as dinâmicas da viagem transatlântica entre a Europa e o Brasil. Os registros apresentados na exposição virtual são do início do século XX e pertencem aos migrantes europeus, que desembarcaram no porto de Santos em busca de novas oportunidades e uma vida melhor em terras brasileiras.
A coleção digital do Museu da Imigração possui uma parte pouco explorada e desconhecida pelo público em geral. É, nesse contexto, que a exposição em questão desempenha um papel útil ao revelar outras perspectivas de análise e de questionamentos acerca do potencial desse acervo. As passagens expostas possuem diferentes formatos, cores e informações, variando de acordo com a Companhia de Navegação, mas apresentam algumas semelhanças gerais com os documentos de viagens internacionais atuais. Além de indicarem itens proibidos de serem carregados nas bagagens e o limite de volume permitido para levar na embarcação, também mostram a rota do navio e, em alguns casos, até mesmo o cardápio servido na terceira classe durante a travessia continental. A importância desses documentos históricos é inestimável, pois nos permitem entender e contextualizar a experiência migratória de forma mais profunda e detalhada.
Retornando ao processo de desenvolvimento de uma exposição virtual, é importante mencionar que as imagens selecionadas para a curadoria devem ser submetidas à plataforma do Google Arts & Culture por meio de uma tabela que contenha os metadados dessa documentação. Nessa tabela, devemos incluir informações como título do registro, descrição da imagem, autor, localização, datas, tipo e código do documento digital. Essa ação é relevante não apenas para garantir a viabilidade da exposição no site, mas também para ajudar a revisitar e revisar, de maneira adequada, as informações disponíveis no acervo do Museu, que pode ser acessado on-line.
Após a inclusão desses registros na plataforma e o desenvolvimento de textos explicativos e legendas, a exposição é construída utilizando os recursos disponíveis no Google Arts & Culture.
Assim, gostaríamos de reiterar o convite para você acessar as mostras virtuais do Museu da Imigração. Abaixo, estão disponibilizados os links para as três últimas exposições lançadas.
- Bilhetes de Viagem
https://museudaimigracao.org.br/exposicoes/virtuais/bilhetes-de-viagem
- Brasileiros na Hospedaria
https://museudaimigracao.org.br/exposicoes/virtuais/brasileiros-na-hospedaria
- Os Registros do Migrar
https://museudaimigracao.org.br/exposicoes/virtuais/os-registros-do-migrar