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30 anos do MI: Introdução
Por Thiago Haruo Santos
Em 25 de junho de 1993, o então governador do Estado de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, no seu terceiro ano de mandato, criou o Museu da Imigração. O decreto 36.987 que o instituiu [1] traz no preâmbulo uma série de informações a respeito do que se esperava da nova entidade, as razões de sua criação e os objetivos:
Considerando que a população do Estado de São Paulo e constituída (sic), em grande parte, pelos imigrantes que vieram formar a força de trabalho deste Estado, desde o início da produção do café até hoje;
Considerando que a integração desses imigrantes, neste período que abrange quase 150 anos, se deu de forma extremamente harmoniosa em certo sentido e de modo mais traumático em outros;
Considerando a necessidade de se conhecer esses imigrantes, de onde vieram, como chegaram a São Paulo, que cultura trouxeram e como se mesclaram à população local;
Considerando que para tanto e (sic) necessário que esses dados sejam levantados e processados vindo a constituir arquivo especializado (...)
No texto, fica evidenciado o intuito de criar um instrumento de memória vinculado às migrações internacionais do passado, mais especificamente, relacionado ao ciclo econômico do café, pelo recorte temporal, àquelas incentivadas pelo Estado no século XIX e início do XX, vindos do continente europeu. O ato normativo ainda revela a necessidade de produzir conhecimento sobre as pessoas migrantes, suas trajetórias e suas culturas. Por fim, o último parágrafo remete a uma função assignada de preservar e organizar informações, a partir de conhecimentos especializados – entenda-se tanto do ponto de vista das migrações internacionais como da arquivística.
O público, que conhece mais de perto o Museu da Imigração do Estado de São Paulo na atualidade, sabe que, hoje em dia, trabalhamos com um conceito mais amplo de migração. Segundo o mais novo Plano Museológico, entende-se por esse termo o "fenômeno humano de longa duração e, portanto, não restrito a nacionalidades, regiões geográficas ou períodos históricos" [2]. Em relação à sua missão e aos seus objetivos, a promoção da reflexão sobre o fenômeno migratório ainda continua tendo centralidade e o atendimento ao público oferecido no Centro de Preservação, Pesquisa e Referência (CPPR) mostra a consolidação do trabalho de arquivo idealizado naquele momento.
A história, porém, não acabou aí. Em 1998, ocorreu uma reorganização e a instituição passou a se chamar Memorial do Imigrante. Em 2014, após quatro anos de obras para restauro e preparação do edifício da antiga Hospedaria de Imigrantes do Brás (1887 - 1978), passou a se chamar, outra vez, Museu da Imigração. Uma história de 30 anos, atravessada por vários momentos da política local e mundial, em que o próprio conceito de imigração/emigração/migração veio se transformando [3].
Na ocasião da comemoração do trigésimo aniversário do Museu da Imigração, a série "MI 30 anos" buscará trazer algumas curiosidades e reflexões sobre essa história institucional. Abordando diversos assuntos, como as diferentes gestões da instituição, o trabalho de formação do seu acervo e as comunidades com as quais trabalhou, as publicações buscarão envolver o público na reflexão do que foi nossa história até aqui e como gostaríamos de seguir.
Acompanhe esse debate e faça parte dos próximos 30!
Referências
[1] https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1993/decreto-36987-25.06.1993.html.
[2] Plano Museológico Museu da Imigração:
[3] Para uma discussão sobre o uso dos termos "migrante", "imigrante", "refugiado", pelo Museu da Imigração, ver: https://museudaimigracao.org.br/blog/migracoes-em-debate/migrante-imigrante-emigrante-refugiado-estrangeiro-qual-palavra-devo-usar.
Foto da chamada: Livro Frei Apolônio: um romance brasileiro, primeiro exemplar tornado acervo no Museu da Imigração em 1993, segundo noticiado no jornal O Estado de São Paulo em 11 de setembro de 1993. | Crédito: Acervo Museu da Imigração.