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Entre estantes: migração e refúgio são também leitura de criança!
Neste período de férias escolares, o Blog do CPPR traz uma dica da equipe para a leitura em família de livros que abordam questões como refúgio, deslocamentos e identidade.
Os dois novos livros que chegaram à biblioteca do Museu da Imigração foram publicados pela editora Pulo do Gato - “Eloísa e os bichos” e “Para onde vamos?” dos autores Jairo Buitrago e Rafael Yockteng – e abordam as temáticas pelo olhar das crianças, conduzindo os leitores a refletir sobre os estranhamentos de habitar um novo lugar e as perguntas que elas carregam durante a travessia por não entenderem os porquês do mundo adulto. Assim, o processo de reconstrução da identidade em um novo contexto, em um lugar em que a língua e a cultura são desconhecidas, se tornam desafios.
“Eloísa e os bichos” inicia sua narrativa pelas guardas – são as primeiras páginas após abrir o livro e que normalmente pulamos para se chegar logo ao texto – a partir de fotografias da menina Eloísa abraçada e rodeada por insetos com características humanas. A jornada de Eloísa é apresentada nessa cidade habitada por seres que estão por todos os lugares: seus vizinhos, colegas da escola, vendedores de loja, motoristas de ônibus são todos bichos esquisitos. Como uma fábula kafkaniana às avessas, acompanhamos as experiências da chegada em um lugar novo, vividas por Eloísa e seu pai. Muitas imagens e o pensamento de Eloísa descrito em poucas palavras transmitem a mistura de sentimentos experimentada por tantas crianças que vivenciam o deslocamento. Na história aprendemos com Eloísa a enfrentar o estranhamento frente ao desconhecido quando tudo ao redor é diferente do já conhecido.
Assim como Eloísa, a menina do livro “Para onde vamos?” também realiza uma travessia acompanhada por seu pai. A viagem começa logo na primeira página e ao longo de todo livro podemos acompanhar os percursos experimentados pelos dois personagens – pegando carona na carroceria do caminhão, no vagão de carga, caminhando a pé –, sempre preocupados de não serem notados pelos guardas. A menina fica confusa por não saber quando vai chegar, onde vai dormir ou qual será o destino final. E não é por mero acaso que a personagem dessa história não tem um nome: sua história é muito similar a de milhares de crianças e famílias que tentam ingressar nos Estados Unidos, vindas do México e da América Central. Ainda que o tema pareça complexo para um livro infantil, a abordagem delicada dos autores preserva o universo infantil na trajetória, trazendo as brincadeiras que a menina faz pelo caminho, o faz de conta com menino que ela conhece em uma casa de passagem, as formas das nuvens que observa com o pai enquanto atravessam o deserto.
Histórias como essas aproximam infâncias. Fazem com que o leitor, independente de sua idade, se relacione com narrativas e conheça experiências e olhares a partir da voz das crianças nos processos das migrações e do refúgio. Falar de processos de deslocamentos, sofridos para os que vivenciam, torna-se possível quando conversamos sobre literatura, pois por meio da ficção fabulamos e transitamos por esses universos, exercitando nossa alteridade, nosso desejo de nomear e compreender melhor sentimentos decorrentes do não pertencer e não ser compreendido por barreiras linguísticas, e diferenças culturais, econômicas e religiosas.
Recomendamos, para todas as idades, a leitura dos dois livros que agora estão disponíveis na biblioteca do museu.
Aproveitem as férias, tragam as crianças e venham ler aqui com a gente!
