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Hospedaria de Histórias: O problema da década de 1920 - o caso dos lituanos como exemplo
Muitos descendentes de lituanos que procuram matrículas de seus antepassados na Hospedaria de Imigrantes do Brás acabam não encontrando tais registros. Assim sendo, recorrem à equipe de pesquisa do Museu da Imigração para tentar entender as razões pelas quais suas buscas foram infrutíferas.
Neste artigo vamos tentar entender, resumidamente, a questão.
O Relatório da Secretaria da Agricultura (SP) do ano de 1927 indica que desembarcaram no porto de Santos 11.844 lituanos; uma quantidade maior do que qualquer outra nacionalidade que aportou em Santos no ano citado. Foi também o ano em que a migração da Lituânia para o Brasil foi a maior da história, superando, de longe, a do ano anterior, com pouco mais de 5.600 registros de entradas.
De 1923 até 1932 cerca de 24 mil lituanos migraram para o Brasil, sendo que o período mais significativo, no que diz respeito à quantidade de imigrantes, é o quinquênio 1926-1930. No gráfico abaixo observamos melhor os dados:

O mesmo relatório de 1927 menciona que, nesse ano, 10.251 lituanos passaram pela Hospedaria de Imigrantes do Brás, ou seja, cerca de 85% do total de entradas no Brasil. Entretanto quando verificamos, no acervo digital, os números das matrículas dos lituanos visualizamos o surpreendente número de apenas 715 registros, ou seja, cerca de 6% do total de entradas. Há uma diferença espantosa entre os dados do Relatório da Secretaria de Agricultura e as informações disponíveis no site do museu.
O mesmo vale para o ano de 1926, por exemplo. Segundo Relatório da Secretaria da Agricultura no ano de 1926 chegaram no Brasil pouco mais de 5500 lituanos. Destes, aproximadamente 5100 foram matriculados na Hospedaria. Contudo, no acervo digital, há apenas 62 registros. Uma diferença, novamente, impressionante.
Alguma documentação está equivocada. Uma pecaria pelo excesso, a outra pelas enormes lacunas.
Analisando Relatórios da Secretaria da Agricultura relacionados a outros anos, especialmente às décadas anteriores a 1920, e comparando com os registros disponíveis no acervo digital chegamos à conclusão de que tais relatórios apresentam dados fidedignos, apesar de incongruências costumeiras.
Como exemplo apresentamos dados dos anos 1898, 1904 e 1912:
ANO | Registros de matrículas na Hospedaria de Imigrantes segundo Relatório da Secretaria de Agricultura | Registros de matrículas presentes no Acervo Digital do Museu da Imigração |
1898 | 27.214 | 27.020 |
1904 | 17.259 | 12.727 |
1912 | 67.789 | 66.725 |
Deduzimos que, muito provavelmente, há uma considerável lacuna no acervo digital para parte da década de 1920. Dessa forma, algo ocorreu com os registros desses lituanos. Podemos depreender, pelo menos, três opções para a não presença dessas matrículas no acervo do museu:
- Tais registros existem, porém não foram digitalizados.
- Tais registros existem, porém não se sabe onde estão.
- Tais registros não existem mais, ou seja, não foram preservados.
Evidentemente que a terceira opção é a mais catastrófica. No que diz respeito às duas primeiras estamos desenvolvendo um trabalho de pesquisa no Arquivo Público do Estado de São Paulo – instituição em que se encontra, atualmente, o acervo arquivístico histórico da hospedaria – cujo objetivo é tentar compreender quais materiais e registros ainda não se encontram disponíveis online. A princípio o foco das investigações está nas últimas décadas de funcionamento da Hospedaria de Imigrantes do Brás (1950, 1960 e 1970). Contudo, entre uma caixa e outra, um livro e outro, estamos nos deparando com alguns registros importantes das décadas de 1920.
Esperamos que tais pesquisas possam trazer uma luz para essa questão enigmática e que, se possível, consigamos encontrar tais registros e preencher essas lacunas históricas. Para os descendentes de lituanos e lituanas, especialmente, será uma enorme contribuição para a memória de suas famílias.
